sexta-feira, 25 de julho de 2008

Contato

Como é que faz pra sair da ilha?
Cia 2 do Balé da Cidade de S. Paulo
Direção: Key Sawao e Ricardo Iazzetta
"Ocupar e estar geram transformações, transposições, conversas. Ou não. Não contar, não falar sobre, mas experimentar, experienciar. Ver o resultado disso. Tentativas de conversa: como surge uma conversa, a construção de um lugar onde possa haver uma conversa. Limite, zona, transformação. Uma imagem interna que preencha todo o espaço. Modos de sentir os limites físicos. Destacado ou misturado com o ambiente? O próprio pulsar já é um diálogo. "Ali acontece uma coisa extraordinária. Ali termina o mar" (Baricco): considerações sobre o limite. O que estamos chamando de zona de limite: onde as coisas têm maior potencial de transformação. "Como é que faz pra sair da ilha?" trata das possibilidades e tentativas de conversas a partir dessas questões e o limite da intenção de comunicar. O que chega? Quantas dimensões o corpo pode alcançar?"
Texto de Key Sawao e Ricardo Iazzeta


Esse blog ficou em gestação por 2 anos! E veio agora à tona com inúmeras mudanças que me permiti realizar. Na verdade, apenas tirei amarras diárias, fragmentos de culpa e cobrança que me perseguiam em todos os momentos. E que me faziam prisioneira em mim mesma, impossibilitada de criar... como se toda a potência estivesse sendo barrada.


Fui descobrindo aos poucos, como a personagem Loreley de Clarice Lispector em "Uma aprendizagem ou o Livro dos prazeres", o lindo prazer do contato, como morder um morango, escutar um raciocínio de uma criança de 5 anos, brincar de pega-pega com um grupinho de "grandes" crianças de 3 anos que gritam "Lero, lero, você não me pega", aquele momento em que a noite vem chegando e o céu se divide em vários tons de azul, passar uma hora em um café no centro da cidade papeando com uma amiga, enfim, descobrir a cada dia que o universo é cheio de surpresas e que cada ser humano é um universo!


Parecem conclusões sem fundamento, mas elas foram conquistadas depois de anos de brigas com a psicologia e estudos de filosofia. O que estou dizendo? É nisso que me baseio aqui? Não! Não é! O fundamento de todas essas escritas foram os aprendizados de cada relação pela qual passei e passo todos os dias. Isso inclui sim o contato com os livros, o diálogo com essas pessoas que refletiram tanto sobre pessoas. E inclui principalmente um modo de me relacionar. Modo que vem sendo aprimorado todos os dias.


Escrevo aqui para quebrar padrões. As palavras ganham finalmente um novo sentido: estão sendo publicadas, e poderão, certamente, ser discutidas. Elas adquirem existência - Sartreanamente falando - porque existir necessita de todo o contato. Não dá pra existir simplesmnte em papéis escritos jogados ao léo. Todas as escritas publicadas aqui ganharam corpo, ganharam voz.


E que todos possam liberta-se também para entrar em contato com o que existirá por aqui, sejam poemas, frases, críticas de manifestações artísticas, fotos, pinturas, crônicas, sugestões.


Estou acreditando nessa abertura ao contato. E você, desamarrou o cadarço ou está com um nó de marinheiro?

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Controladamente

Ulisses zombando de Polifemo
Joseph Mallord William Turner, 1829
National Gallery, London
Aperto-a contra mim.
Beijo-a.
O que sinto é o que penso.
Nuvem de racionalizações que me cerca.
E impede de sentir-me e sentir os outros.
Não sei o que quero.
Porque não chego até mim.
O sentido da vida está na mente.
E ela mente ao meu coração.
Se alguém me olha profundamente,
Controlo.

Espectador do mundo,
Faço e desfaço aquilo que observo.
Tenho o poder de fazer o que quero.
E querer o que?
A cada dia uma vontade nova.
Eternamente insatisfeita.
Controlo.

Alguém se aproxima e eu vou em sua direção,
Me afasto.
Como um dia Narciso afastou Eco de si.
Admirando somente a própria imagem.
Não deixou que outrem o tocasse.
E chegasse mais perto do que ele realmente era.
Medo que alguém descubra quem sou.
Medo de me firmar como alguém que é.
Escapo.

E assim permaneço,
Evadido de mim mesmo.
Controle da mente.
[esse é antigo, escrito para alguém muito especial em minha vida.]

31/08/2006.

Escrever

Falar sobre um povo
Mostrando a minha cara
Pensamentos em palavras
publicados no papel.

Existir na leitura do outro:
o vai-e-vem do diálogo.
No caminho, o olhar faminto encontra a si.
A estrada é a partilha.

A chama de um suspiro brota na conversa.
Despertar do transe da solidão.
Vive quem escreve,
vive quem lê.

Estou entre as palavras e o legado.
Humanamente dizendo,
sou onde nasço no mundo.
Serei quando voarem nestas linhas.