terça-feira, 17 de março de 2009

Enchentes


Homens por todos os lados, anciões, carecas, espinhudos, mastigando, ouvindo um som, dormindo, vendendo amendoim, gritos de reclamação. Uma multidão irritada. Dependente do transporte público em dia de chuva. Uma catástrofe natural, alagamentos, inundações. Trânsito interrompido. Na estação de trem de São Caetano o dilúvio de pessoas. Abelhas inflamadas depois de tocarem em sua colmeia. Enxovalhavam o maquinista. Pelo vidro, vejo filas do lado de fora da estação. Como um quadro fresco de rostos pintados:retratos da cidade, do caos. Caras sem voz, sem corpo, sem meios... Todos extremamente juntos. Desunidos. O que podiam fazer além da paciente espera? Bater os pés? Caminhar? Telefonar aos familiares? Alguns promovem um levante: passam a caminhar nos trilhos "Vamos a pé até o Brás". Um senhor coça o cocoruto, um moço faz a ginástica do cansaço. Novas conversas se formam. Uns dormem, outros "ãh...". Sem espaço, sem respiro, sem trem! Como vamos para casa? Que tempestade foi essa? A seca poeira da cinza fumaça - permanência da queima da vida - como resultante a torrencial chuva para a qual a humanidade não está preparada. Esse mundo que nos orgulhamos tanto em destruir cotidianamente grita mais alto. Gritamos por dentro a espera de mais de 5 horas... e mais, e mais, e mais. Até quando?