quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ela retirou-se de cena...

"Um dia você ficará cego, como eu. Estará sentado num lugar qualquer, pequeno ponto perdido no nada, para sempre, no escuro, como eu. Um dia você dirá, estou cansado, vou me sentar, e sentará. Então você dirá, tenho fome, vou me levantar e conseguir o que comer. Mas você não levantará. E você dirá, fiz mal em sentar, mas já que sentei, ficarei sentado mais um pouco, depois levanto e busco o que comer. Ficará um tempo olhando a parede, então você dirá, vou fechar os olhos, cochilar talvez, depois vou me sentir melhor, e você os fechará. E quando reabrir os olhos, não haverá mais parede. Estará rodeado pelo vazio do infinito, nem todos os mortos de todos os tempos, ainda que ressuscitassem, o preencheriam, e então você será um pedregulho perdido na estepe. Sim, um dia você saberá como é, será como eu, só que não terá ninguém, porque você não terá se apiedado de ninguém e não haverá mais ninguém de quem ter pena."

Fim de Partida, Samuel Beckett


Ela retirou-se de cena.
Sabendo que talvez nunca mais o sentisse com aqueles olhos.
Era preciso.

Tinha gana de amar todos os dias.
O que só seria possível em outros tempos... fora do tempo.

Ele se descompromissava. Gostava daquela distância alheia.
Preferia ouvir sua voz, suas palavras, a estar com ela.

Os dois não existiam juntos. Era uma história quimérica.
Amor.
Separação.
Eram puro desejo.
Irreais.

Existirão para sempre em suas poesias.
Em que um era a alma do outro.
Quando ninguém os entendia, eles se olhavam: eram um só!
Um amor fantástico.
Escrito.
Em cinzas.

L.P.