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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ela retirou-se de cena...

"Um dia você ficará cego, como eu. Estará sentado num lugar qualquer, pequeno ponto perdido no nada, para sempre, no escuro, como eu. Um dia você dirá, estou cansado, vou me sentar, e sentará. Então você dirá, tenho fome, vou me levantar e conseguir o que comer. Mas você não levantará. E você dirá, fiz mal em sentar, mas já que sentei, ficarei sentado mais um pouco, depois levanto e busco o que comer. Ficará um tempo olhando a parede, então você dirá, vou fechar os olhos, cochilar talvez, depois vou me sentir melhor, e você os fechará. E quando reabrir os olhos, não haverá mais parede. Estará rodeado pelo vazio do infinito, nem todos os mortos de todos os tempos, ainda que ressuscitassem, o preencheriam, e então você será um pedregulho perdido na estepe. Sim, um dia você saberá como é, será como eu, só que não terá ninguém, porque você não terá se apiedado de ninguém e não haverá mais ninguém de quem ter pena."

Fim de Partida, Samuel Beckett


Ela retirou-se de cena.
Sabendo que talvez nunca mais o sentisse com aqueles olhos.
Era preciso.

Tinha gana de amar todos os dias.
O que só seria possível em outros tempos... fora do tempo.

Ele se descompromissava. Gostava daquela distância alheia.
Preferia ouvir sua voz, suas palavras, a estar com ela.

Os dois não existiam juntos. Era uma história quimérica.
Amor.
Separação.
Eram puro desejo.
Irreais.

Existirão para sempre em suas poesias.
Em que um era a alma do outro.
Quando ninguém os entendia, eles se olhavam: eram um só!
Um amor fantástico.
Escrito.
Em cinzas.

L.P.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Realidade do shopping

Como um quadro
bonecos de cera
Ausentes da realidade
a falar
O mundo acontece em pedaços
Pedaço vivido
Pedaço sonhado
A fatia do bolo de chocolate
e o de fubá com goiabada.

A falsidade de um sorriso para agradar.
Mentira, para vender.
Um mágico "boa tarde"
Simpatia planejada em detalhes.
Vestidos para quê?
Eles compram
recompram.

Retratos de pessoas
Tratados em photoshop
Maquiagem de travesti
Qual é a verdade?
O jeito de morder uma coxinha
e de segurá-la...
Quem come tudo com as pontas dos dedos
e tão vagarosamente?
"Não esqueça de limpar,
o canto esquerdo do lábio
com guardanapo branco".

O que foi que nos ensinaram?
Regras de sorrir?
De existir para agradar?
Como prender um grampo
para que ele fique invisível?
Camisa xadrez
combina com bermuda ou calça?
A realidade é tão real
quanto o faz-de-conta.
São todos príncipes e princesas
de coração duro
camuflados em vestes da realeza.

Quem teria coragem
de rasgar suas próprias roupas?
Quem faria o favor
de se vestir em capa de pele?
Quem sairia
a passear por um shopping
onde a mercadoria de troca é...
Mercadoria?
... a passear por um shopping
onde...
Existimos!
Apenas somos.
Desnudados.
Revestidos de nós mesmos.
Roupagem em pêlo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um vaga-lume sobre a cerca na chuva.


do filme 'Diário de uma Paixão'

O menino apagou as luzes.
enquanto ela brincava de ser adulta do lado de lá.
Havia uma cerca entre eles, de tempo, de chuva, era vento e água que cobririam o mundo todo.
E inda sim eles se beijavam, se tocavam.
A criança e a adulta.
Porque ele lembrava ela como era bom brincar aqui dentro.
E ela lembrava ele dos chamados do mundo de fora.
a vida existia sobre a cerca. ele nela e ela nele viravam um só.
era tempestade cheia de raios na certa!
Dois adolescentes que se encontravam no entre-caminhos da vida.
e sonhavam. molhados.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

. ; :

ponto ponto e vírgula dois pontos história entre pontos de um ponto a outro quantas letras que já nem cabem nesse vazio ficar nada é melhor que se tivessem palavras que não falam e não contam O que existe entre um ponto e outro é o espaço tempo criado por cada um de nós. Dois pontos não podem ser começo nem fim são continuação o novo vindo do velho O mais presente dos presentes.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

...morte de elefantes...

 http://www.youtube.com/watch?v=Oi3o7TuDr3w&feature=player_embedded#

Elefantinhos vertem um liquido vermelho por suas trombas... 
eles estão morrendo... 
juntos... desgastados, 
deixam-se sofrer a dor... 
deitam-se sobre cobertores e sangram... 
enquanto o menino chora... 

o elefante rosa renasce em outro mundo, 
mais claro, mais vivo... 
ouve a natureza, mas ainda não sente o seu cheiro... 
tem medo de ouvir demais... 
cala-se, sem voz...
disse muito, palavras ao vento... 
recupera-se, e, no novo caminho, muda de direção

... revive suas feridas... 
aprende com aquilo que se desmancha... 
com a carne cortada....
servida em banquete para cegos famintos..
.aprende com cada pedaço...
a ler o que não está escrito...
a intuir. 

Acende a vela...
segue a chama... 
vive a essência de seu novo mundo...
tira a capa de invisibilidade...
aos poucos, 
gosta da delicadeza do olhar passando por sua pele, 
pousando de leve em seus carinhosos olhos...
move-se redondo. 

Anda sem se preocupar com o caminho, 
vendo apenas a luz do horizonte. 
Caminha em seu próprio trilho. 
Pegadas...
leveza no peso do elefante.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vergonha


A dança

Ela dança em mim
no momento exato,
no segundo preciso
do constrangimento.

Incomoda
Ver alguém sem nada a dizer
Sem saber o que fazer
quando atrai olhos e ouvidos a si.

Ah, se
Neste instante
o corpo é quem fala
O feitiço muda de direção

Vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha da vergonha...

Necessário:
http://www.youtube.com/watch?v=C570byQCLpI

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Controladamente

Ulisses zombando de Polifemo
Joseph Mallord William Turner, 1829
National Gallery, London
Aperto-a contra mim.
Beijo-a.
O que sinto é o que penso.
Nuvem de racionalizações que me cerca.
E impede de sentir-me e sentir os outros.
Não sei o que quero.
Porque não chego até mim.
O sentido da vida está na mente.
E ela mente ao meu coração.
Se alguém me olha profundamente,
Controlo.

Espectador do mundo,
Faço e desfaço aquilo que observo.
Tenho o poder de fazer o que quero.
E querer o que?
A cada dia uma vontade nova.
Eternamente insatisfeita.
Controlo.

Alguém se aproxima e eu vou em sua direção,
Me afasto.
Como um dia Narciso afastou Eco de si.
Admirando somente a própria imagem.
Não deixou que outrem o tocasse.
E chegasse mais perto do que ele realmente era.
Medo que alguém descubra quem sou.
Medo de me firmar como alguém que é.
Escapo.

E assim permaneço,
Evadido de mim mesmo.
Controle da mente.
[esse é antigo, escrito para alguém muito especial em minha vida.]

31/08/2006.

Escrever

Falar sobre um povo
Mostrando a minha cara
Pensamentos em palavras
publicados no papel.

Existir na leitura do outro:
o vai-e-vem do diálogo.
No caminho, o olhar faminto encontra a si.
A estrada é a partilha.

A chama de um suspiro brota na conversa.
Despertar do transe da solidão.
Vive quem escreve,
vive quem lê.

Estou entre as palavras e o legado.
Humanamente dizendo,
sou onde nasço no mundo.
Serei quando voarem nestas linhas.