domingo, 31 de agosto de 2008

ESTANTE ALADA

Enfileiradas nas gavetas
O orgânico conto-cado.
Arritmada passada
Eterno retorno-ado.

Sonâmbulo empoleirado
Na anestesia velada
Dirigiu à ampulheta
Um movimento malogrado

Disse ao tempo que andasse
E permaneceu no espaço parado
Viva estátua atrasada
Por muitos desgostada.

Julgavam-no des-educado.
Estações não aproveitadas.
Embaraçado em suas asas.
Estanque, esgotado.

A velhice foi revelada,
Por suas penas esparramadas.
Nos cômodos, cantos, calçadas.
Em seu olhar paralisado.

Conquanto não tencionava o desagrado,
A muitos ele estimava.
Amortecido em sua morada:
A vida havia caducado.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Intensidade

"Deixa o olhar do mundo

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?
Basta de enganos!
Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.
Olha: não posso mais!
Ando tão cheio
Deste amor, que minh'alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo...
Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso. "

Olavo Bilac

Acabo de ler o romance "Noites Brancas" do Dostoiévski. Neste livro, um personagem sem nome se apaixona por uma garota que estava chorando. O narrador, personagem principal, comunica-se com os prédios e casas, e com tudo aquilo que permanece o mesmo, como que num pré-viver, e a moça vive atada a sua avó (concretamento mesmo), a espera de uma promessa feita por uma rapaz um ano atrás. Quando se conhecem, a moça pede que ele apenas não se apaixone por ela. E é óbvio que ele se apaixona!! E incessantemente repete o nome dela "Nastienka, Nastienka". Ele se define como um sonhador... Dostoiévski ridiculariza as histórias românticas e o próprio personagem que não tem nem nome, é "um tipo".

Fico pensando nessa exaltação toda que diz Olavo Bilac. O quão real pode ser isso?? E essa paixão de "noites brancas"??

Penso, enfim, no próprio apaixonar-se... Como penso...
Como é apaixonar-se por alguém? Ou apaixonar-se por algo? É tão fácil chegar na beira, olhar de cima do abismo... Mas é possíel lançar-se?? Olhar, encarar, ver, aproveitar, sentir, viver...

E ao mesmo tempo... será que existe mesmo a paixão? Ou ela é apenas um mundo de devaneios sentidos solitariamente por aquele que se diz romântico? Apenas um bando de emoções curtidas a quatro paredes?

Dizem que a paixão é extremamente intensa... Tão fácil contemplar a intensidade...
E sentir intensamente, alguém se atreve?? E compartilhar um sentimento... vivê-lo a dois, a três, a cinco????

Convido aqui aqueles que quiserem a contar os seus apaixonamentos, seja por pessoas, profissões, idéias...

Até breve.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

MENTIRA

Confusão... Quando uma pessoa em quem você confiava muito conta uma grande mentira, o que você faz?

Vamos começar com a mentira... O que é a mentira?
Vai dizer que nunca mentiu, Pinóquio?! Sempre deixamos algo de fora, toda vez que nos colocamos em palavras. Às vezes esquecemos o que um amigo disse, e tudo aquilo passa a ser reinventado. O que é a verdade de quando contamos uma história? Existem realmente os fatos? Ou apenas a construção que fazemos deles?

Será que a verdade em uma conversa é a expressão da opinião? Dizemos realmente o que pensamos quando nos perguntam? Acredito que essa verdade não existe em essência, já que é construída à medida que falamos (ou que não falamos).

Mas, então, como podemos chamar aquilo que foi deliberadamente inventado pelo outro?? Aquela história que foi aumentada? Aquele fato ocorrido entre duas pessoas (o, digamos, mentiroso, e mais um), mas que é contada de duas formas diferentes????? Mentira???

Em que ponto uma mentira fere?? O que gera no mentiroso, no difamado e também naquele que por segundos (dias, semanas ou anos) acreditou no conto??

Vamos começar pelo último (por quenão começar pelo começo?). Sabe uma coisa chamada confiança?? Ela não existe mais... Não é porque uma pessoa confia quea outra automaticamente tem que confiar... Uma mentira pode ser devastadora para um relacionamento. Muitas então... E o crente passa a desconfiar de tudo e todos... O que será que é verdade??

O difamado... Bom, esse tenta alertar aqueles que estão próximos do mentiroso! Perde completamente a confiança no tratante, e fica pensando em com opôde ser um dia tão próximo a uma pessoa assim... Por fim, faz a verdade do acontecimento vir à tona.

O mentiroso... Bom, esse precisa refletir sobre os seus ditos e atos. O que quer com essa mentira?? Por que roubar a verdade de alguém e fazer uma nova história?? Por que conta sempre vantagens em seus contos?? Ele mesmo parece querer criar uma nova realidade para si... Talvez se existissem fadas que pudessem reinventá-lo??!! Talvez não goste de si mesmo e de sua própria vida... E suas palavras sejam bem mais interessantes... É, aí ele consegue que todos se afastem, deixem de confiar, de cuidar, e se importar. O que alguém poderia querer com uma pessoa que é uma farsa???