sexta-feira, 23 de abril de 2010

Avoa! Projeto Urgência. Ação vídeo

http://www.youtube.com/watch?v=RgHBSftW5tw&feature=player_embedded#!

Só mais um na boiada? Mais um de chapéu-coco? Ou vamos experimentar e arriscar?


“Há uma multidão de homens, homens diferentes. Quando pensamos numa multidão, contudo, não pensamos num indivíduo; do mesmo modo estes homens estão vestidos de igual, tão simplesmente quanto possível, para sugerir uma multidão… Golconda foi uma rica cidade da Índia, uma maravilha. Acho uma maravilha poder caminhar pelo céu na terra. Por outro lado o chapéu de coco não constitui uma surpresa – é um artigo de complemento nada original. O homem de chapéu de coco é o Sr. Normal, no seu anonimato. Eu também uso um: não tenho vontade de me destacar das massas“.


Golconda

de René Magritte.




"A vida é as vacas
 que você põe no rio
para atrair as piranhas
enquanto a boiada passa". 

LEMINSKI

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte;
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?


Ferreira Gullar

Poesia utilizada no processo do Projeto Urgência do ...Avoa! Núcleo artístico.

1º chamada para a intervenção coletiva: "três minutinhos..." / Pare por três minutinhos para fazer bolhinhas de sabão no metrô SÉ. Quando: dia 06 de maio - quinta - às 17h

Imagine o metrô em horário de maior movimento, com suas plataformas lotadas de pessoas cansadas e divididas entre seus pensamentos e a necessidade de preservar um pouquinho de espaço. Agora imagine que, de repente e de uma só vez, começam a subir muitas bolhinhas de sabão do meio desse aglomerado. MUITAS, (!) a ponto de provocar sensações diferentes das vivenciadas até então, naquele local.

Agora imagine-se participando dessa intervenção ao lado de outros conhecidos e desconhecidos...
 

...Pois bem, o desejo de resignificar um espaço público surgiu de uma situação bastante comum no nosso dia-a-dia: pessoas "enlatadas" nas estações de trem, a falta de espaço nesses e em outros locais e a sensação de falta de ar. Diante de tanto "peso" e de uma individualidade comprometida pela multidão, o ...AVOA! pensou em levar um elemento leve, bonito, lúdico e que contém um espaço interno repleto de ar... A bolhinha de sabão.
O núcleo está com um novo projeto que dialoga diretamente com a cidade e que agrega diversas ações, principalmente as intervenções urbanas, foco principal de pesquisa e criação.

Busca-se, através da realização de ações na cidade, a resignificação do espaço público e a experiência do contato do cidadão que se desloca por esses ambientes, ampliando o repertório de relações sensoriais com a cidade, alimentando o banco de dados imagético urbano e abrindo possibilidades de gerar novas percepções e sensações. O aumento deste repertório propõe a saída de um “lugar óbvio” ditado pela rotina, que cria automatismos nas relações urbanas e humanas e onde certas imagens e sensações passam despercebidas.

Participem! São só alguns minutos de muita leveza e troca.

Ajudem a divulgar! Convide os amigos!

Contribua para que a intervenção seja um sucesso!


Abraços,

Calu Baroncelli, Chris Cruz, Conrado Carmven, Gil Grossi, Larissa Pretti, Luciana Bortoletto e Ricardo Bretones



http://www.nucleoavoa.com/


http://nucleoavoa-artes.blogspot.com/

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ela retirou-se de cena...

"Um dia você ficará cego, como eu. Estará sentado num lugar qualquer, pequeno ponto perdido no nada, para sempre, no escuro, como eu. Um dia você dirá, estou cansado, vou me sentar, e sentará. Então você dirá, tenho fome, vou me levantar e conseguir o que comer. Mas você não levantará. E você dirá, fiz mal em sentar, mas já que sentei, ficarei sentado mais um pouco, depois levanto e busco o que comer. Ficará um tempo olhando a parede, então você dirá, vou fechar os olhos, cochilar talvez, depois vou me sentir melhor, e você os fechará. E quando reabrir os olhos, não haverá mais parede. Estará rodeado pelo vazio do infinito, nem todos os mortos de todos os tempos, ainda que ressuscitassem, o preencheriam, e então você será um pedregulho perdido na estepe. Sim, um dia você saberá como é, será como eu, só que não terá ninguém, porque você não terá se apiedado de ninguém e não haverá mais ninguém de quem ter pena."

Fim de Partida, Samuel Beckett


Ela retirou-se de cena.
Sabendo que talvez nunca mais o sentisse com aqueles olhos.
Era preciso.

Tinha gana de amar todos os dias.
O que só seria possível em outros tempos... fora do tempo.

Ele se descompromissava. Gostava daquela distância alheia.
Preferia ouvir sua voz, suas palavras, a estar com ela.

Os dois não existiam juntos. Era uma história quimérica.
Amor.
Separação.
Eram puro desejo.
Irreais.

Existirão para sempre em suas poesias.
Em que um era a alma do outro.
Quando ninguém os entendia, eles se olhavam: eram um só!
Um amor fantástico.
Escrito.
Em cinzas.

L.P.