sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Urgência + (In)Visibilidade

Cidade(zinha) do interior de São Paulo. Chego na conveniência do posto de gasolina.

- Eu mesma posso pegar o café? (com sono... sem olhar nos olhos da atendente).
- Não, deixa que eu te sirvo (mostrando seus lindos dentes entre os lábios!). Vou buscar o copo.
A moça "quebra as minhas pernas", me olha, e eu também olho em seus olhos, enxergo.
- Vou querer mais um, por favor.
- Hoje está todo mundo com bastante sono. Não sei que acontece! Veio uma moça de manhã e pediu também dois cafés pra ela!!!
- Ah (rindo), eu to bem lerda hoje, mas o outro é pro meu amigo!

E assim o papo continuou. Simpatias.

Café da tarde do mesmo dia, já em São Paulo, padaria.
- Oi! (aos sorrisos).
- São 3,60. dinheiro ou cartão?

Conversas de café... Eita metrópole!! Onde ela esquece o ser humano? Como ver? Como se fazer visto através do vidro?


Escondido na vassoura, na gravata, no palco, na cadeira giratória, atrás do balcão ou do computador... O homem acha que é o seu emprego! Que é este que garante a sua visibilidade, que o torna útil para a humanidade.
É, útil ele é! SERVE PARA limpar, divertir, planejar, atender, vender, servir...
Sua humanidade DEVE ser ignorada e desprezada! A pequena parte que precisa permanecer intocada, invisível: seus pensamentos, suas emoções, suas crenças, suas atitudes.
Para que falar sobre a vida com os colegas de trabalho se podemos falar de futebol ou do último homem que amamos? Papinhos... Diz-se que diz-se. "A vida real é que nem na novela!". Tão lindo opinar sobre  tal ou qual personagem... E sobre a própria vida? Alguém tem consciência??

Continuamos perguntando "o ESSENCIAL" ao conhecer alguém: O que gosta de fazer para se sentir feliz (diria: a natureza é linda... amo percebê-la, adimirá-la)? O que lê (já me contaram!! Alimentos para a alma)? Quem é o seu cantor preferido (quem me conhece, sabe!!)? De que cheiro você mais gosta (alguns lembrariam daquele bolo de cenoura com cobertura de chocolate da vovó... outros do cheiro da chuva trazido pelo vento antes dela começar)? Em que lugar do mundo (ou fora dele!!) se sente mais confortável (alguns... mas tenho o meu esconderijo secreto, meu paraíso, pra onde flutuo sempre que posso!)? Me conte algo gostoso de saborear... (hummmmmmmmmm).

Claro, vivemos de conversas essenciais para se conhecer alguém...
Alguém já viveu uma desta?
- Essa aqui é a Larissa, minha amiga.
- Oi, Larissa, prazer. O que você faz?
- (...)

Um comentário:

Pedro Leão disse...

Alguns sentindo a necessidade de compartilhar sua humanidade, outros sentindo a humanidade superexposta ser dilacerada pela intolerância alheia.
Acho que as pessoas da metrópole escondem sua humanidade por defesa. Nas cidades pequenas, é fácil e prazeiroso expôr sua intimidade para aqueles personagens estereotipados do interior, aquele um barbeiro ou dono da mercearia. São poucas pessoas e dá pra saborear a humanidade delas como se sorve um bom chá. Aos poucos e passeando pela boca. Mesmo as críticas sãao como uva passa no meio da massa do bolo: uma surpresa que foca a tua atenção.
A metrópole é outra coisa. Não dá pra se defender do primeiro impropério antes de receber o próximo, porque é muita gente. É natural que muitos escolham revelar apenas o superficial, inatacável e útil. Evita desgastes inúteis...