- Eu mesma posso pegar o café? (com sono... sem olhar nos olhos da atendente).
- Não, deixa que eu te sirvo (mostrando seus lindos dentes entre os lábios!). Vou buscar o copo.
A moça "quebra as minhas pernas", me olha, e eu também olho em seus olhos, enxergo.
- Vou querer mais um, por favor.
- Hoje está todo mundo com bastante sono. Não sei que acontece! Veio uma moça de manhã e pediu também dois cafés pra ela!!!
- Ah (rindo), eu to bem lerda hoje, mas o outro é pro meu amigo!
E assim o papo continuou. Simpatias.
Café da tarde do mesmo dia, já em São Paulo, padaria.
- Oi! (aos sorrisos).
- São 3,60. dinheiro ou cartão?
Conversas de café... Eita metrópole!! Onde ela esquece o ser humano? Como ver? Como se fazer visto através do vidro?
Escondido na vassoura, na gravata, no palco, na cadeira giratória, atrás do balcão ou do computador... O homem acha que é o seu emprego! Que é este que garante a sua visibilidade, que o torna útil para a humanidade.
É, útil ele é! SERVE PARA limpar, divertir, planejar, atender, vender, servir...
Sua humanidade DEVE ser ignorada e desprezada! A pequena parte que precisa permanecer intocada, invisível: seus pensamentos, suas emoções, suas crenças, suas atitudes.
Para que falar sobre a vida com os colegas de trabalho se podemos falar de futebol ou do último homem que amamos? Papinhos... Diz-se que diz-se. "A vida real é que nem na novela!". Tão lindo opinar sobre tal ou qual personagem... E sobre a própria vida? Alguém tem consciência??
Claro, vivemos de conversas essenciais para se conhecer alguém...
Alguém já viveu uma desta?
- Essa aqui é a Larissa, minha amiga.
- Oi, Larissa, prazer. O que você faz?
- (...)
Um comentário:
Alguns sentindo a necessidade de compartilhar sua humanidade, outros sentindo a humanidade superexposta ser dilacerada pela intolerância alheia.
Acho que as pessoas da metrópole escondem sua humanidade por defesa. Nas cidades pequenas, é fácil e prazeiroso expôr sua intimidade para aqueles personagens estereotipados do interior, aquele um barbeiro ou dono da mercearia. São poucas pessoas e dá pra saborear a humanidade delas como se sorve um bom chá. Aos poucos e passeando pela boca. Mesmo as críticas sãao como uva passa no meio da massa do bolo: uma surpresa que foca a tua atenção.
A metrópole é outra coisa. Não dá pra se defender do primeiro impropério antes de receber o próximo, porque é muita gente. É natural que muitos escolham revelar apenas o superficial, inatacável e útil. Evita desgastes inúteis...
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